Nosso Senhor, após ver a terra fertilizada e assim, cumprida sua missão, despede-se da Deusa e inicia seu caminho rumo ao Submundo. Ele se torna o terrível Senhor das Sombras, trazendo a morte e o esquecimento. Mas junto com a morte, Ele traz o descanso, por isso, Ele é também o Consolador.
A Deusa, que é vista neste mundo como a Lua, aquela que brilha na escuridão, cresce e míngua em seu eterno ciclo. E em certo momento desse ciclo, Ela anda três noites na escuridão, pois no amor Ela sempre busca seu complemento.
E uma vez, no inverno do ano, em que Ele havia desaparecido da Terra verde, Ela o seguiu e partiu ao Submundo em sua nau, pelo Sagrado Rio da Descida.
Nossa Deusa soluciona todos os mistérios, até mesmo o mistério da morte. Assim, Ela chega, finalmente, aos portões além dos quais os vivos não entram.
Quando Ela se depara com o primeiro dos portais, seu guardião a desafia:
- Tira tuas vestes, põe de lado tuas jóias, pois nada tu podes trazer contigo ao interior desta nossa terra.
E a cada um dos portais, a Deusa teve que pagar o preço da passagem, pois nada pode ser dado sem que algo seja oferecido em troca.
No primeiro portal, Ela deixa seu cetro, símbolo do poder sobre as coisas que nos rodeiam.
No segundo portal, Ela deixa a coroa, que representa a autoridade, o status perante os círculos sociais.
No terceiro, Ela deixa seu colar, que representa a exigência por riqueza, sucessos e realizações, pois isso de nada vale no processo de reconhecimento do Espírito.
No quarto portal, Nossa Deusa deixa seu anel, símbolo de associação a uma entidade, formação acadêmica ou nível intelectual.
No quinto, Ela deixa sua guirlanda, que representa as fachadas pessoais e o que é usado para ocultar imperfeições, erros e defeitos.
No sexto portal, Ela tira suas sandálias, deixando para trás as trilhas já seguidas e as políticas anteriormente adotadas, abandonando pontos de vista atuais e preparando-se para conhecer novos.
No sétimo portal, por fim, Ela deixa suas vestes, a cobertura mortal, e uma vez removidas, o que resta é o Verdadeiro Espírito, que é somente o que entra no reino da Morte.
Por amor, Ela estava ali confinada, como todos os que ali penetram, e foi conduzida à Morte, totalmente nua e com os pulsos amarrados.
Mas tal era sua beleza que a Morte se ajoelhou e depositou sua espada e sua coroa aos seus pés, e beijando-os, disse:
- Abençoados são teus pés, pois te trouxeram por esta senda. Fica comigo, eu imploro, e deixa teu coração ser por mim tocado.
E Ela respondeu:
- Eu não te amo. Por que fazes com que todas as coisas que amo e nas quais me delicio venham a fenecer e morrer?
- Minha Senhora – respondeu a Morte – Trata-se da idade e da fatalidade, contra as quais sou impotente. A idade, o envelhecimento leva todas as coisas a definharem, mas, quando os homens morrem, ao desfecho de seu tempo, concedo-lhes repouso, paz e força. Por algum tempo, eles habitam com a Lua e com os espíritos da Lua; então podem retornar ao reino dos vivos. Mas tu, tu és linda. Não retornes, permanece comigo.
Mas Ela respondeu:
- Eu não te amo!
E então disse a Morte:
- Se não recebes minhas mãos sobre teu coração, tens que te curvar ao açoite da Morte.
- É a fatalidade, que assim seja – Ela disse e se ajoelhou.
E a Morte a açoitou brandamente.
Nesse momento, Nossa Deusa compreende a Morte e reconhece seu Amado Senhor.
- Reconheço Tua dor, a dor do amor.
Nosso Deus a ergue, dizendo:
- Seja abençoada, Minha Rainha!
E Ele lhe deu o beijo quíntuplo de iniciação, dizendo:
- Somente assim podes ambicionar sabedoria e prazer.
Então, o Deus desamarra seus pulsos, depositando o cordel no chão.
A Deusa toma a coroa e a recoloca na cabeça do Senhor do Mundo Subterrâneo. Ele transforma a coroa em um colar, representando o Círculo do Renascimento, e o coloca no pescoço Dela, ensinando-lhe todos os seus mistérios.
O Senhor do Submundo toma o açoite em sua mão esquerda e a espada em sua mão direita e fica na posição do Deus, antebraços cruzados sobre o peito, espada e açoite apontados para cima.
Ela fica na posição da Deusa, pernas abertas e braços estendidos, formando o pentagrama e ensina a Ele o mistério da Taça Sagrada, que é o Cálice, o Caldeirão do Renascimento.
A Deusa toma o cálice em ambas as mãos, Eles se entreolham e Ele coloca suas mãos nas Dela. Ela toma o cordel e amarra as mãos dos dois ao redor do cálice.
- Através de você todos saem da vida, mas através de mim todos podem renascer. Tudo passa, tudo muda. Mesmo a Morte não é eterna. Meu é o Mistério do Ventre, que é o Caldeirão do Renascimento. Penetre em mim e me conheça, e estarás liberto de todo o medo. Pois se a vida é somente uma passagem para a morte, a morte é somente uma passagem de volta para a vida e, em mim, o círculo sempre gira.
E Eles se amaram e se tornaram um. Ele penetrou-a e, assim, renasceu para a vida.
Assim, há três grandes mistérios na vida do homem: sexo, nascimento e morte, e o amor controla todos. Para realizar o amor, tens que retornar ao mesmo tempo e local dos que amaram antes; e tens que encontrá-los, conhecê-los, lembrá-los e amarrá-los de novo. E para renascer, tens que morrer e ser preparado para um novo corpo. E para morrer, tens que nascer, e sem amor não podes nascer.
E Nossa Deusa sempre se inclina para o amor, o prazer e a alegria. Ela protege e cuida de suas crianças ocultas nesta vida e na próxima. Na Morte, Ela revela o caminho que leva à comunhão com Ela, e na vida, ensina a magia do Mistério do Círculo Mágico, existente entre os mundos dos homens e dos Deuses.
E assim, nós somos ensinados a cada começo da Roda do Ano, em que o Senhor e a Senhora compartilhamo comando do ano, cada um oferecendo e compartilhando de equilíbrio para com o outro.
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